O aproveitamento agrícola e urbano do território brasileiro

O Brasil é conhecido como o celeiro do mundo. Países e multinacionais estão investindo massivamente no agronegócio brasileiro que é, de fato, uma das últimas fronteiras agrícolas mundiais.

Dez anos atrás, durante meu período sabático, quando estudei energias na USP, fiz uma viagem no interior do Brasil para observar pessoalmente o impacto dos biocombustíveis no uso das terras, o que virou, em parte, o assunto da minha tese de mestrado. Descobri que temos muitos “apriori” sobre o uso da terra e venho aqui objetivar o debate com dados concretos.

Deixo o leitor tirar suas próprias conclusões e ficarei feliz de contribuir ao debate, só deixar comentários no post.

O Brasil possui área total de 851 Mha (Milhões de hectares), desse total aproximadamente 30% tem aproveitamento agrícola, sendo  72% para pastagens, 25% para lavouras e o restante para silvicultura. As áreas urbanas representam apenas 4% do total.

As pastagens e mais de 55% da área de lavoura são dedicadas para a alimentação animal, ou seja, mais ou menos 28% do território brasileiro. Grande parte das pastagens é considerada como área degradada, particularmente nas fronteiras agrícolas que são lugares ecologicamente frágeis. De forma simplificada, a dinâmica dos últimos anos foi: a cana empurra a soja para o norte, a soja empurra a pecuária e a pecuária desmata o cerrado e a floresta tropical. No Brasil contamos uma vaca por hectare de pastagem em média.

Dos 70 Mha de lavoura, mais de 80% se concentram em 3 cultivos: soja (46%), milho (23%) e cana (12%). Estima-se que apenas 15% das áreas de lavoura sejam dedicadas ao consumo direto humano, o que representa menos de 1,5% do território brasileiro!  Mais de 80% da produção de soja e milho são destinados para ração animal. O restante vai para exportação, biocombustíveis, indústria de adoçantes e indústria têxtil.

93% da produção de soja é oriunda de sementes geneticamente modificadas. O grão de soja permite produzir óleo (15% a 20%) e farelo destinado essencialmente para ração. No total, aproximativamente 60% da safra é exportada e menos de 5% da soja vai para o consumo humano, essencialmente na forma de óleo de cozinha.

O óleo de soja é o principal insumo do biodiesel e a cana de açúcar do etanol. Vale destacar que com apenas meio por cento do território nacional, ou 2% das terras agrícolas, produzimos etanol suficiente para substituir a metade do nosso consumo de gasolina. Os números são interessantes, pois isso reduz sensivelmente o impacto em termos de aquecimento global. Em contrapartida, onde existe monocultura da cana (ou de qualquer plantio), os ecossistemas estão sofrendo e os solos apodrecendo. No Brasil, a contribuição principal para o aquecimento global não é do setor do transporte, vem em primeiro lugar as queimadas e, em segundo lugar, a indústria da carne em geral. Diferentemente de outros países, aqui biocombustíveis ainda não competem por alimentos.

A silvicultura industrial ocupando 3% do território é baseada essencialmente no eucalipto e no pinus. Curiosamente, são dois tipos de árvores que reduzem drasticamente a ciclagem do solo , a biodiversidade e esgotam os lençóis freáticos.  Um terço vai para a produção de papel, o resto vai para o carvão de siderurgia e lenha, pouco vai para a produção de madeira e móveis.

Nota final: Os números apresentados podem variar de fonte para fonte, agora as ordens de grandeza são aquelas apresentadas aqui. Muitas fontes falam de 60 Mha para área cultivada, a diferença se explica pelo fato de que algumas áreas têm duas safras por anos e outras, como frutas e hortaliças, não são considerados como lavoura. Não achei um único lugar que tivesse toda está informação sintetizada. Por este motivo, fiz uma compilação usando como fonte relatórios da CONAB, do SEBRAE e do IBGE.

 

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