Saia do automático em 2018 e veja o mundo como ele é!

A sua mente mente…

Dispomos de recursos mentais limitados

Segundo uma pesquisa recente realizada em 38 países, os brasileiros ficaram em penúltimo lugar na hora de confrontar a realidade com a percepção que tem dela. O levantamento, feito pelo instituto britânico Ipsos Mori, permitiu destacar a percepção equivocada que as pessoas têm da realidade à sua volta e a tendência de perceber um quadro pior do que a realidade. Isso não é próprio dos brasileiros, é do ser humano como um todo.

As neurociências estão reforçando as teorias dos vieses cognitivos que explicam que, entre a percepção que temos e a realidade, existe literalmente um mundo. (Ver a pesquisa do psicólogo Drew Western, Emory University).

Como lembra Daniel Kahneman, estes vieses são uma solução evolucionária para um problema básico: dispomos de recursos mentais limitados. Isso nos conduz a “erros graves e sistemáticos”, ainda mais em situações de incertezas, como é o caso em um mundo V.U.C.A. (volátil, incerto, complexo e ambíguo).

 

Os vieses cognitivos

O viés da confirmação é a nossa tendência a buscar informações ou interpretá-las de modo a confirmar os nossos pressupostos e descartar dados conflitantes, o que limita a nossa abertura para ideias e opiniões novas. Sobretudo em assuntos que mexem com a emoção do sujeito – como futebol, religião ou política, por exemplo – o cérebro humano não assimila nem aceita informações e evidências que vão contra suas convicções. Cada um enxerga a realidade como quer e não como ela é. Nós procuramos evidências para confirmar e apoiar nossas crenças e ignoramos ou simplesmente reinterpretamos da forma que melhor nos convêm as provas que refutam nossas convicções. As tecnologias e as mídias sociais, que selecionam as informações que recebemos, só fazem com que este viés aumente.

Para sair desta bolha, recomendo que cada um confronte as suas ideias com as pessoas de opiniões adversas através de um diálogo maduro com escuta e respeito mútuo. Não um respeito do tipo “tudo bem você pensar diferente do que eu” e virar as costas. Um respeito com diálogo onde me interesso, investigo e testo os motivos pelos quais o outro pensa diferente. Eu costumo dizer que não tenho opiniões definitivas e que adoro mudar de opinião porque, quando acontece, significa que o diálogo foi rico em dialética e negociação e permitiu ampliar a minha visão do mundo.

Existem outros, como o viés da ancoragem que consiste na preferência por confiar demais numa informação isolada ao tomar decisões, influenciando nossas percepções pela nossa própria imaginação e abrindo mão de uma visão global e sistêmica.

Ou ainda o viés da manada que é a tendência em fazer ou acreditar em coisas porque os outros também fazem ou acreditam.

Entre todos, vale destacar o nosso viés da negatividade que é a tendência a dar mais peso a informações e experiências negativas do que positivas. Até pode parecer contraditório, pois vários estudos científicos demonstram que temos tendência em superestimar a nossa própria atratividade, inteligência, ética, chance de sucesso e outros elementos que achamos sob o nosso controle próximo. Ou seja, enquanto nos superestimamos, também subestimamos o mundo em geral. Somos estruturados para sermos otimistas locais e pessimistas globais.

Não é por acaso que o noticiário foca nas notícias ruins, pois são as que mais provocam emoções e vendem pautas. Sendo assim, também são aquelas que mais lembramos.

 

Saia do automático e veja o mundo como ele é!

Estes vieses estão intimamente ligados com o funcionamento do nosso cérebro, sobretudo quando está no modo automático, ou seja 90% do tempo.

Daniel Kahneman distingue duas formas de lidar com a realidade no seu livro “Rápido e devagar, duas formas de pensar”. O sistema um, mais intuitivo e emocional, ágil, rápido e automático de um lado, e o sistema 2, mais lento, racional, ponderado, cansativo. A minha dica não é desligar o sistema 1, é usar mais o sistema 2, combinar o que os dois sistemas têm de melhor.

Amo a frase do V. Frankl que diz que entre o estímulo e a reação existe um espaço e, neste espaço, reside a nossa liberdade. Cabe a cada um de nós resgatar este espaço. Uma simples respiração ou uma pausa antes de responder são suficientes para sair do automático e escolher uma reação alternativa baseado no nosso córtex, na nossa capacidade de empatia e compaixão.

Que tal trabalhar esta habilidade para 2018?

 

Thomas BRIEU

Fique ligado! Em um próximo post exploraremos em que a constituição e a estrutura do nosso cérebro podem explicar os vieses cognitivos.

Além do livro “Rápido e devagar, duas formas de pensar”, recomendo também o livro “Abundância” que tem um capítulo bem feito sobre este tema.

Pin It on Pinterest