Como e por que se tornar um virtuoso da escuta ativa

Em matéria de escuta ativa, nós estamos mal preparados.

Desde os trabalhos de Carl Jung, continuados por Moulton Marston, sabemos que existem duas grandes tendências de personalidade.

A primeira é daquele tipo de pessoa que se preocupa e se anima para intervir e interagir com os outros e em seus ambientes. Para eles, é sempre urgente dizer ou fazer e, enquanto não dominam a escuta ativa, ela é sempre um obstáculo, um freio que os retarda o ímpeto.

A segunda é aquele tipo que, ao contrário, é animado por uma atenção às pessoas e às coisas  o que os predispõem a serem receptivos, ou mesmo curiosos, com os outros e com aquilo que eles encontram. No entanto, frequentemente, suas reservas naturais os impedem de fazer perguntas.

A essas tendências, adiciona-se um ótimo instrumento que se chama interpretação que, no entanto, funciona como uma faca de dois gumes. O homem, para sobreviver, é equipado por um filtro que lhe serve de referência: a cada vez que ele cruza com um indivíduo, ou uma situação, ele as compara com o que já conhece e julga, em décimos de segundo, a natureza daquilo com que ele acabou de topar. É essa avaliação rápida e instintiva que lhe permite ter os reflexos que o protegem.

Contudo, essa avaliação do outro ou da situação pode facilmente se transformar em julgamento definitivo. E, nesse caso, não escutamos mais o ambiente porque nossa opinião já está formada.

Um instrumento que vale ouro

A escuta ativa não é algo natural. É um instrumento quase estranho a nós e que, como um violão ou uma raquete de tênis, nos perturba e nos estranha por muito tempo até que consigamos tocar um som, fazer um gesto e acertar a bola, enfim gestos que reinventam nossa relação com o conhecimento.

Ainda assim, esse instrumento vale ouro. Há, ao menos, quatro virtudes:

  • Nos permite, de imediato, recolher as informações que tornam nossas decisões mais justas;
  • Evita que digamos ou façamos coisas de maneira inapropriada ou desajeitada;
  • Nos torna simpáticos aos olhos daqueles que escutamos ativamente. Não esqueçamos que todos nós somos mais seduzidos por aqueles que nos escutam do que por aqueles que nos aconselham, ou seja, por aqueles que nos colocam em evidência mais do que por aqueles que se colocam em evidência;
  • Instaura uma atmosfera de apaziguamento e de respeito propícios ao bem-estar de todos.

Assim, fica claro que aquele que domina a escuta ativa detém um trunfo considerável face à maioria das situações profissionais ou pessoais com que ele lida.

Durante uma entrevista de emprego, negociação, apresentação ou conflito, a escuta ativa torna possível a detenção de chaves preciosas para tranquilizar, adaptar, agir de modo adaptado e desarmar as tensões com uma eficácia e uma facilidade que parecem desconcertantes para um neófito.

É necessário praticar sempre

Ninguém se torna violinista sem praticar e o mesmo vale para a escuta ativa. Vejamos, então, as suas regras simples:

  • Desacelerar o raciocínio enquanto o outro fala para entender o que ele diz e não diz;
  • Respirar e ficar em silêncio uns instantes quando o outro terminar para fazê-lo dizer um tanto mais do que ele havia previsto e digerir suas palavras;
  • Explorar com perguntas abertas para encorajá-lo a ir ainda mais longe;
  • Acolher e levar em consideração, isso é, provar ao outro que escutamos o que ele disse sem julgá-lo;
  • Responder na continuidade do que o outro disse, reusando suas palavras, sem ruptura ou oposição.

Depois de fazer diversas vezes com afinco, conseguiremos perfeitamente. Para aprender rápido é necessário praticar o tempo todo e com todo mundo.

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