Respeito sem diágolo não resolve.
Nas minhas últimas viagens à Europa, tive uma sensação que foi se revelando e que só agora encontro as palavras para expressar: sensação de que há um respeito muito grande pelas diferenças. Aliás, como poderia um continente tão velho e cheio de discórdias históricas se manter em paz? Como fazer coexistir, em um pedaço de continente tão limitado, tantas culturas diferentes? Além disso, é um lugar que sempre foi cobiçado pelos outros povos, atrai imigrantes e a chegada desses faz com que coexistam mais diferenças ainda. Quem já andou de metrô em Paris e na sua periferia sabe o quanto esta experiência é multicultural. Esse respeito é institucionalizado, está formalizado na constituição e escrito nas leis, a tal ponto que o Instituto de Estatísticas francês, equivalente ao IBGE brasileiro, não tem a liberdade de publicar estatísticas em função de etnias ou origens culturais.
E, ao mesmo tempo em que meu racional reconhecia esses fatos, meu emocional apontava para o oposto. De forma sutil e subliminar, percebia um fomento para a “separação” entre “europeus” e o resto do mundo. Sentia que havia uma linha de pensamento omnipresente que se diz tolerante e aberta, quase dona do pensamento justo e certo e que tomou conta das mídias, da rádio e da televisão. Uma linha alimentada por muitos artistas, políticos e intelectuais. E vejam que isso foi antes dos ataques terroristas, agora é bem menos sutil.
Ou seja, de um lado um respeito institucional e do outro uma visão polarizada.
De certa forma, só agora percebi o porquê desta ambivalência: é como se todo mundo respeitasse e tolerasse todo mundo, mas ninguém se escutasse de verdade. Há uma aceitação institucional pelas diferenças, mas não há uma convivência com as diferenças. Cada grupo fica com sua própria visão do mundo, sua verdade, sem se interessar pelos demais.
Isto é, caiu a ficha: uma coisa é respeitar e tolerar as diferenças e outra é dialogar de verdade, vivenciar as diferenças, explorar o desconhecido, investigar pontos de vista diferentes. Respeito sem abertura não resolve!
Sei que muitos europeus não se reconhecerão nessas palavras. Tenho muito cuidado com generalizações. E não quero ser pego aqui em “flagrante” de generalização, nem pretendo entrar num debate se é ou não é. Meu objetivo é apenas compartilhar uma sensação interna e quase íntima, limitada como qualquer sentimento a um determinado contexto geográfico e temporal.
Isso não acontece apenas com os europeus. A Universidade do Michigan concluiu, através de uma pesquisa que envolveu mais de 104.000 pessoas, que no que se refere a medir o grau de compaixão e empatia, a capacidade dos consultados em imaginar o ponto de vista dos outros, o Brasil obteve o 51º lugar num ranking de 63 países. O Brasil tem a reputação de ser um país de povo simpático, generoso, sempre disposto a ajudar, agora foi o nosso vizinho o Equador que saiu em 1° lugar, seguido por países como Dinamarca, Coreia do Sul, Estados Unidos e Kuwait.*
*Saiba mais sobre este estudo no artigo do Carlos Julio
Data: 11/03/2017