Liderar é a arte de conjugar os opostos

Entrevista: Thomas Brieu é diretor da DO IT Brasil. Após várias experiências como executivo, empreendedor e administrador de empresas, ele compartilha sua experiência nas áreas da assertividade, escutatória e inteligência emocional. É reconhecido entre outros pelos seus treinamentos em liderança e vendas. Fizemos perguntas para saber da sua visão sobre um bom líder.

Como tornar-se um líder?

Lembro-me de quando, ainda criança, perguntei a minha mãe, que tinha acabado de receber uma promoção: “O que é preciso para ser um bom líder?”. Ela me respondeu: “bom senso”. Quinze anos mais tarde, no começo da minha carreira como gestor, perguntei ao meu mentor, “qual é o segredo para se tornar um bom líder?”. E ele me respondeu, simplesmente: “discernimento”.

Ainda hoje, estou amadurecendo estas duas respostas. Ingenuamente, acreditava que fossem características universais, agora eu sei que elas precisam de trabalho, critérios e disciplina.

Quais as demais características que fazem um bom líder?

Constatei pela minha experiência que um líder é uma pessoa coerente, determinada, exigente, com uma visão diferenciada e contagiosa, além de ter um grande sentido de organização e de justiça. É uma pessoa que sabe dizer “não” sem romper com as relações, que sabe tomar decisões mesmo quando ainda faltam informações. Um bom líder é também alguém que tem uma atitude positiva na sua visão de mundo e face às dificuldades. Observando também os contraexemplos, constatei ainda a importância fundamental de se ter qualidades humanas como a abertura, a integridade, a sensibilidade, a escuta, a empatia, a responsabilidade, a humildade, até uma certa vulnerabilidade, e muitas vezes também senso de humor. Sabe quando a pessoa séria que não se leva a sério?

Enfim, um bom líder é alguém que inspira os demais a agir, que provoca a ação. Mais do que isso, uma pessoa generosa na multiplicação do seu conhecimento, que revela novos talentos e procura sempre seu sucessor. Essa é uma liberdade para que as coisas não dependam exclusivamente dele, para que possa também se dedicar a novas oportunidades quando aparecerem.

Tantas qualidades não fazem parecer essa missão impossível?

É verdade que pode parecer ambicioso, ainda mais porque muitas destas características são contraditórias entre si! Trata-se mais de uma arte do que de uma ciência. Muitas vezes digo que liderar é a arte de conjugar os opostos.

Por exemplo, não se trata de demonstrar firmeza e exigência pela manhã e abertura e escuta na parte da tarde. Trata-se de conjugar estas noções que parecem opostas, em tempo real, no auge da ação, muitas vezes dentro de uma mesma frase.

A boa notícia é que existem comportamentos simples, específicos e reproduzíveis que permitem essa formação com um pouco de treino.

Como assim, quais seriam os exemplos?

Um bom líder sabe conjugar a firmeza na forma e abertura nas ideias e nos pontos de vista diferentes quando conduz uma reunião. Sabe transmitir ao mesmo tempo segurança, controle e, por outro lado, tem a capacidade de mudar de opinião e assumir seus erros. Alguém que sabe demonstrar ambição e exigência sem deixar de ser justo e reconhecer os méritos dos demais. É uma pessoa que sabe escutar, se interessar e levar em conta opiniões diferentes e ao mesmo tempo manter uma posição firme, e que dá vontade aos demais de compartilhar sua posição, mesmo quando ela é inesperada. Alguém que consegue ver as oportunidades detrás das crises. Que sabe ver o lado do copo meio cheio quando todo mundo vê o lado meio vazio.

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